Salvador-Bahia,,de 2015

Lei de Gérson

Gérson de Oliveira Nunes foi um dos melhores meio-campistas de toda a história do futebol brasileiro e teve participação fundamental na conquista da Copa do Mundo de 1970. No entanto, terá seu nome imortalizado não apenas por suas contribuições esportivas, mas também por ter batizado uma das poucas leis que são regiamente respeitadas no Brasil, ao lado da Lei da Gravidade e da Lei de Murphy.

A malandragem, a esperteza e o tão propagado "jeitinho brasileiro" ganharam seu enunciado definitivo graças a uma frase que Gérson pronunciou em uma propaganda de televisão veiculada em 1976, para os cigarros Vila Rica. No comercial, o ex-armador do São Paulo discorre sobre várias vantagens do cigarro que anunciava: "É gostoso, suave e não irrita a garganta". Para arrematar sua argumentação em prol da marca, Gérson questiona: "Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro?". Em seguida, com um sorriso malicioso, diz a infame frase que, descontextualizada, tornou-se o bordão definitivo da terra dos espertalhões, das propinas e da generalizada falta de ética neste país: "Gosto de levar vantagem em tudo, certo?".O enunciado da lei de Gérson põe a nu a essência do nosso caráter sem pudor: somos um povo que gosta de levar vantagem. E daí? Alguém aí teria orgulho de fazer parte de uma nação de trouxas e otários?

Ninguém aqui vai defender um comportamento antiético ou ilegal com base no enunciado da lei de Gérson. Se ela existe, é em primeiro lugar reflexo da nossa realidade. Veja o caso das nossas empresas. Na hora de dar entrevista e aparecer na mídia, todas querem loas a sua responsabilidade social corporativa e boa cidadania. Na hora de declarar imposto, de desempatar alguma pendenga judicial ou de conseguir autorização para obras, estão todas atrás do primeiro Rocha Mattos de plantão para livrar-lhes a cara, já que, em meio à nossa barafunda legal, a propina é questão de sobrevivência e só ela faz a economia andar.

Parece que o povo brasileiro vive uma tensão entre duas forças. Por fora, a força da imagem. Em público, todos têm de ser como que sacerdotes, com comportamento impecável, retidão moral absoluta, espinha dorsal inflexível. Os políticos corruptos são condenados com virulência, qualquer deslize de executivos tem de ser punido de forma exemplar, damos a nossos filhos a impressão de que a ira divina se abaterá sobre suas menores falhas. Esse sentimento faz a fortuna e a desgraça de prefeitos, governadores e presidentes. Por dentro, porém, irrompe a força de Gérson. Todos querem o melhor para si - e que mal há de haver nisso? De posse da menor fímbria de poder, de uma tênue nesga de oportunidade, não raro transgredimos as mesmíssimas regras cuja transgressão acabamos de condenar nos outros. Julgamos, condenamos, enforcamos e esquartejamos Gérson. Mas Gérson somos nós. Eis nosso dilema.

Até hoje Gérson é injustamente penitenciado por ter estrelado uma campanha publicitária que, involuntariamente ou não, captou uma essência básica do imaginário coletivo nacional. Fica aqui a lição, caros leitores: nem sempre vale a pena aceitar todas as propostas comerciais que vocês recebem.

Pesquisa Realizada por Alunos do Curso de Publicidade da UCSal


Fontes de Pesquisa
Revista Superinteressante e Interney

Um comentário:

  1. Esta é a nossa triste realidade Brasileira,tiramos onda de santo e benfeitor más no fundo queremos sempre tirar proveito de qualquer situação e de alguém,é na fila do banco,na faculdade e em qualquer lugar.
    Como diz o ditado popular:" Farinha pouca,meu pirão primeiro".
    Edilson
    Acadêmico de Economia da Ucsal

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